sexta-feira, 21 de março de 2014


Romantismo - Estilo de Época

       O Romantismo marcou o início da afirmação do capitalismo sobre todas as regiões do mundo. É o período do predomínio do indivíduo, em que gênios, pessoas excêntricas e grandes artistas — que antes estavam vinculados a estruturas estabelecidas de poder — conquistaram a liberdade e começaram a agir por conta própria. Dessa forma, o Romantismo pode ser considerado uma revolução em amplo sentido, pois a concepção e a atitude do homem em relação ao mundo que o cercava tornaram-se bem distintas das predominantes nos séculos anteriores. Sem o patrocínio de mecenas ou a necessidade de financiamentos, os românticos ganharam liberdade para criar.

       Isso foi possível por causa de dois motivos. Em primeiro lugar, devido à ampliação do público leitor, que se deu por meio da incorporação, ao público letrado, de segmentos que anteriormente não faziam parte dele. A burguesia passou a ter mais acesso à educação, e suas preferências passaram a predominar no mercado editorial. Os burgueses não eram um público acostumado a festas de salões ou exposto à sociedade, como no período anterior ao Romantismo, mas, sim, um público anônimo. Em segundo lugar, os autores ganharam mais liberdade para criar devido à melhoria que ocorreu no ramo editorial. Essa foi possível por causa da modernização das técnicas da imprensa, impulsionada por avanços tecnológicos e pela ampliação de capital decorrente do aumento do número de leitores.
      A liberdade de criação tornou-se um dos pontos principais do chamado "estado de alma romântico". Essa postura foi marcada por algumas características definidas em todas as regiões do Ocidente, como o relativismo, a busca da natureza e a liberdade de imaginação. Enquanto "estado de alma", ela mantém vivas, ainda hoje, muitas de suas características. Para perceber isso, basta olhar para nossas próprias idéias a respeito do mundo.
      Estilo de época predominante na literatura ocidental, o Romantismo teve início na Inglaterra (em 1789) e na Alemanha (em 1975), em um período que se estende da segunda metade do século XVIII até meados do século XIX.
      A busca das origens espaciais do Romantismo é um reflexo da forma como ele foi estruturado, buscando definir cada nação e suas características. Nessa época, ocorreu a consolidação dos grandes Estados modernos, a derrubada de Monarquias Absolutistas e a instalação de uma visão burguesa nos governos.
     Na Alemanha e na Inglaterra (especialmente na região da Escócia), alguns poetas passaram a fazer um tipo de poesia que se contrapunha aos modelos formais do Classicismo, até então predominante — uma poesia rude, que foi atribuída, na Alemanha, aos poetas pré-românticos e, na Escócia, aos poetas lakistas. Dessas regiões, o movimento avançou para as demais localidades da Europa e do Ocidente.
      Na França, o Romantismo teve início com a figura de Mme. De Staël e com Chateaubriand. Nesse país, surgiu Jean-Jaques Rousseau, considerado o "pai do Romantismo".
      No ano de 1816, na Itália, foi publicada a Carta Semi-séria de Crisóstomo, que foi considerado o primeiro manifesto romântico.
      Na Península Ibérica, o Romantismo chegou a Portugal em 1825, com a publicação de Camões, de Garrett. Em 1835, a Espanha assistiu ao início desse movimento e pouco depois, o Brasil.
      Costuma-se associar o início do romantismo no Brasil com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, no ano de 1836.

►As principais características do Romantismo são:
a) Subjetivismo: é a expressão do "eu" romântico, ou seja, daquilo que caracteriza cada pessoa. Essa é a grande busca dos escritores românticos. A presença da vontade individual, de opiniões pessoais e de julgamentos é constante nas obras românticas.
b) Liberdade criadora: o autor romântico procura separar-se de tudo que seja imposição externa, seja quanto à forma do texto ou ao conteúdo a ser trabalhado. Com relação à liberdade de forma, o autor romântico procura distanciar-se dos modelos clássicos de escrita, que foram mantidos até o final do Classicismo; no que diz respeito à liberdade de conteúdo, ele busca tornar-se um artista independente, que possa dar vazão às opiniões e vontades próprias.

c) Sonho: esse é um tema comum na literatura romântica. Ele pode ser pensado como a libertação da alma dos escritores, que passa a ser expressa por meio das palavras.

d) Sentimentalismo: na busca do escritor romântico pelas questões subjetivas do mundo e de seu próprio "eu", o sentimento tem papel fundamental. É por meio dele que o autor se insere na realidade e, mais do que isso, o sentimento é a própria realidade para ele. Podemos identificar, entre outros, dois tipos de atitude nas obras românticas: a introspectiva, em que o autor volta-se para os próprios sentimentos, e a expansiva, em que ele está preocupado com questões coletivas, como o nacionalismo e a sociedade. Além disso, o escritor pode demonstrar, nas duas atitudes, um sentimento melodramático.

e) Solidão: no Romantismo, o importante é a exaltação do "eu", o que resulta em um grande sentimento de solidão. Tal sensação só desaparece quando o personagem ou o "eu" poético encontra-se com o ser amado. Por outro lado, a separação ou a morte da pessoa amada faz agravar o sentimento de isolamento em relação ao mundo, levando, muitas vezes, ao desejo de suicídio.

f) Evasão: vivendo em um mundo cada vez mais injusto e cruel, o escritor romântico tem tendência a se isolar, não necessariamente de maneira física. A fuga da realidade pode ocorrer de diversas formas, como por meio da bebida (vinho) e das drogas (ópio). Essa evasão também pode se manifestar de outra maneira, na presença de elementos como a noite, o delírio, as febres e, até mesmo, a morte.

g) Idealizações: ao mesmo tempo em que o romântico expõe suas idéias sobre o mundo que o cerca, ele transforma esse mundo naquilo que acha que é a realidade. A busca da perfeição é uma das grandes questões para os escritores desse período.

h) Mulher: a definição da mulher perfeita faz com que o romântico não veja a pessoa do sexo oposto como ela realmente é, mas como ela deveria ser ou como ele acredita que ela é. As mulheres perfeitas são definidas, quase todas, como virgens, puras, brancas, ingênuas, lindas, sensuais e, geralmente, são pessoas proibidas de amar o personagem ou o "eu" poético.

i) Natureza: assim como as mulheres, ela é idealizada e não representa a natureza real que cerca o poeta, mas, sim, um ambiente que se aproxima da perfeição.

j) Gostos: essa é outra característica relacionada ao subjetivismo. O que importa para o romântico é a satisfação de seus desejos e caprichos, o que, muitas vezes, realiza-se somente quando ele perde completamente sua individualidade e se funde ao ser amado.

k) Noite: esse é um tema constante nas obras românticas, especialmente na segunda geração. O misterioso ou o que não pode ser definido racionalmente, é representado na literatura romântica sob o véu da noite.

l) Mistério: o culto à noite está relacionado à busca pelo misterioso, por aquilo que não possui explicação lógica ou racional. Uma característica típica do romântico é tratar o mundo como algo que precisa ser descoberto.

m) Exagero: os exageros ocorrem, quase sempre, no campo sentimental. Suicídios, parricídios e isolamentos são extremamente comuns na literatura romântica e são, em sua maioria, causados por amores proibidos ou não correspondidos.

n) Reformismo: por ser uma estética que representa valores novos, o Romantismo se torna um dos porta-vozes das mudanças que estavam sendo pregadas pela burguesia contra os valores tradicionais que perduraram até o Classicismo.

o) Passado: o passado heróico é descrito como uma possibilidade de desenvolver um homem forte e que enfrenta o mundo. Contra uma realidade contemporânea estagnada, o passado representa, para o escritor romântico, um momento de grandes conquistas. É por meio da criação de um passado heróico para sua pátria que o romântico ajuda a formar a identidade nacional e o sentimento pátrio.

p) Ruínas: presentes em um grande número de obras, as ruínas (em especial as greco-romanas) e objetos antigos relacionam-se diretamente à retomada do passado.

q) Fé: mesmo que em alguns momentos os escritores românticos deixem clara sua posição de ateus ou anticristãos, na maioria das vezes, eles trabalham com valores provindos da doutrina tradicional da Igreja católica.

r) Ilogismo: as obras românticas acabaram apresentando problemas de lógica interna devido à busca pela supremacia do subjetivismo. A experimentação e a inovação tornaram-se características desse movimento estético.

s) Arte: no campo da arte, o Romantismo propõe a independência da arte, que não deve estar vinculada a nada além da busca do belo. Diferentemente dos períodos anteriores, quando a maioria dos artistas dependia da ajuda de um mecenas, no Romantismo, o artista devia ser capaz de viver de sua arte, sem fazer concessões a ninguém a não ser a si mesmo.

     Para pensar no Romantismo brasileiro, o melhor a fazer é dividir esse momento em três fases, pois cada uma delas dá ênfase a aspectos distintos dos itens mencionados anteriormente, possuindo, assim, características próprias. Essa distinção em fases é normalmente aplicada à poesia, mas, em alguns casos, pode ser usada para ajudar a definir a prosa e o teatro românticos.

►Poesia

Primeira geração romântica
Teve início em 1836 com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães. O principal representante dessa geração é o poeta Gonçalves Dias. Nesse momento, buscava-se uma identidade para o país recém-formado. Assim, os autores procuravam ressaltar características que diferenciassem o Brasil dos demais países, recorrendo essencialmente à natureza e ao índio. A importância dada à definição do índio enquanto grande herói nacional fez com que essa geração ficasse conhecida como indianista.

Segunda geração romântica
Foi o período mais curto da produção romântica (1840 a 1850) devido à morte prematura de quase todos os seus representantes. O pessimismo e a fuga da realidade cotidiana eram as características mais marcantes. Assim, os poemas e textos em prosa dessa época apresentavam uma ambientação fantástica e, muitas vezes, mórbida. Essa geração foi marcada pelo spleen (melancolia) e mal-do-século, e ficou conhecida como geração ultra-romântica. Sob a influência de Byron, seus maiores representantes foram Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Junqueira Freyre.

Terceira geração romântica
Voltada a questões sociais e sob a influência do liberalismo, que aflorava por todo o Ocidente, essa geração encontrou, na literatura, espaço para denunciar os problemas da sociedade da época, entre eles, a escravidão. Nesse período, o abolicionismo ganhou força. Os escritores dessa geração buscavam um nacionalismo mais crítico, que olhasse não somente para as belezas naturais do país e que tivesse um idealismo menos ingênuo. Inspirado em Vitor Hugo, a terceira (e última) geração romântica teve seu ápice com os poemas de Castro Alves.

►Prosa
      Até o advento do Romantismo, a prosa foi considerada um gênero de qualidade inferior à da poesia. Foi com a consolidação dos valores burgueses que o gosto pelas narrativas em prosa ganhou espaço. Com textos mais simples do que os poéticos, as narrativas de aventura e amor — muitas vezes, recheadas de erotismo — conquistaram o público leitor, formado, principalmente, por estudantes e mulheres.
      É bom esclarecer que a diferenciação do Romantismo em três momentos é típica da poesia, não sendo aplicada à prosa. Quando pensamos em livros como Iracema, Noites na Taverna, Lucíola e Senhora, podemos classificá-los da seguinte forma: Iracema — indianismo; Noites na Taverna — ultra-romantismo; Lucíola e Senhora — romances sociais. No entanto, se prestarmos atenção às datas em que foram publicados esses livros, veremos que eles não seguem a seqüência definida pela poesia, pois Senhora, por exemplo, foi escrito antes de Iracema.
     Na prosa, todas as tendências românticas ocorrem paralelamente, ou seja, elas não obedecem a uma seqüência temporal de predominâncias. O primeiro livro de José de Alencar, Cinco Minutos e A Viuvinha, por exemplo, se enquadra na categoria romance de costume e apresenta as mesmas características trabalhadas pela terceira geração da poesia romântica, enquanto alguns dos livros do final de sua carreira poderiam ser inseridos na temática abordada pela primeira geração dos poetas românticos.

►Teatro
É no período romântico que o teatro nacional se consolida, apresentando encenações diferentes das produzidas em épocas anteriores, que tinham caráter religioso (especialmente os autos). Autores como José de Alencar e Martins Pena contribuíram para a criação de um gênero que se popularizou rapidamente, em que as preferências do burguês eram salientadas, e a crítica à sociedade tradicionalista era uma temática comum. Um dos fatores que permitiu a popularização do teatro foi a utilização da língua portuguesa nas peças, em lugar do francês, que era usado até então.

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